Belezas vitais – por Raquel Alves

O estrume da vaca é uma consequência daquilo que ela come. A questão aqui não é se é mal cheiroso ou ruim. Isso seria já um julgamento sobre o pobre estrume… Ele é apenas uma conseqüência, é a sobra daquilo que não foi aproveitado e que deve ser imediatamente descartado para não fazer mal ao corpo da vaca.

Conosco e com os animais é exatamente assim. Mas acima de tudo, o estrume da vaca é uma analogia ao fato de que não devemos carregar aquilo que nosso corpo não precisa. Nem nosso corpo, nem nossa alma. Há artistas que transformam as fezes em beleza. A beleza, é claro, vai do gosto de cada um… Mas de certa forma pode-se incrementar o excesso com alguma poesia, e assim somos nós…

Nós vivemos sempre carregando muito além do que nos é necessário.

E não nos basta simplesmente carregar, nós desejamos aquilo que não nos é necessário! E como chegamos a desejar aquilo que não nos é necessário? Basta que os olhos da nossa alma enxerguem beleza em algum estrume de vaca e através da beleza seu cheiro vira perfume.

Pare para pensar sobre sua vida e vá mentalmente substituindo o excesso pelo essencial e veja o quanto vai mudar. Porém cuidado com esse processo de limpeza! Nem sempre o essencial está ligado à sobrevivência, mas ao viver. Uma música pode ser inútil para sua sobrevivência, mas é essencial para sua alma.

Quando cercamo-nos com as belezas vitais, ou seja, quando alimentamos nossa alma com aquilo que ele ama, nós vivemos leves e felizes. Não é preciso carregar todas as belezas, só aquelas que nos alimentam por dentro: o aroma da gastronomia, a musica, livros, barulho de mar, carinho e amor… Cada alma é única e tem seu próprio “pacote” de belezas vitais.

Para isso trabalhamos: para alimentar o corpo e a alma. Afinal de contas, nossa grande tarefa nesse mundo de Deus é viver intensamente






Arquiteta por formação, hoje dedica-se integralmente a presidir o Instituto Rubem Alves, criado para manter vivo o pensamento de seu pai, difundir a sua obra e capacitar novos mestres.