Certa vez, uma pessoa muito conhecida afirmou que nunca havia visto mais beleza em alguém, do que numa pessoa triste. Na época, ainda jovem, achei que pudesse ser apenas uma excentricidade de gente famosa. E talvez até fosse. Porém, nos dias de hoje, entendo profundamente a beleza que a tristeza desperta, que vai muito além dos traços e olhos baixos, da voz tímida e rara, e dos gestos discretos.

A tristeza do ser humano, seja num homem, numa mulher ou ainda numa criança, nos desperta a compaixão pelo próximo. E a afinidade que tantos buscamos no outro para nós mesmos.

Quando nos entristecemos de maneira profunda, seja pelo motivo que for, deixamos a arrogância de lado, a necessidade de sensação de superioridade, os desejos de vingança ou inveja. A tristeza, por mais dolorida que seja, nos aproxima do que realmente somos: o ser humano. Frágil, delicado e carente.

Quando tristes, nos rendemos à dor que nos toma de dentro pra fora. Deixamos de lado a superficialidade das festas e dos amigos passageiros. Não vemos mais a necessidade das coisas materiais ou luxuosas. A tristeza nos trás a carência do que verdadeiramente faz a diferença em nossas vidas: o amor.

Numa sociedade onde a cor e o tipo do cabelo importam, bem como as unhas feitas e a proporção da altura com o peso, nos acostumamos a sermos observados através de tais parâmetros, além da etiqueta daquilo que vestimos e calçamos, bem como de onde vestimos e calçamos. Somos julgados a todo instante através de valores que em nossa alma não fazem diferença alguma.

Tamanha e insuportável dor que carregamos, perante a necessidade de nos adequarmos a sociedade tão mesquinha e injusta, que quando nos deparamos com um rosto indisfarçavelmente triste, automaticamente nos conectamos. Sentimos em sua dor as feridas de nós mesmos, a lembrança do que deveríamos ser.

Um rosto triste carrega humildade, fraqueza, fragilidade e carências escancaradas de um momento que não se suporta, seja ele qual for. Os olhos não escondem jamais um instante em que uma alma se sente ferida.

Diferente de nosso dia-a-dia, de selfies multifacetadas e cheias de brilho, um rosto triste mostra o que todos tentam esconder, manifestando em nós mesmos a compaixão adormecida, da qual também tanto necessitamos. A dor do outro é também a minha: escondida, enrustida, em nome de uma sobrevivência em uma sociedade ensandecida.

Num tempo de velocidade e medidores de eficiência pessoais e profissionais sem fim, a tristeza se faz bela por ser a transparência que perdemos no dia-a-dia, a fragilidade incontestável do que realmente somos. A humildade que esquecemos. O pedido de socorro que não temos coragem de ecoar.

Apesar de um sorriso ter a capacidade de nos fazer perder a cabeça e o rumo, ainda é a tristeza que nos conecta com o que há de mais humano em cada um de nós: a fragilidade do sentir dor. A dor que nos rende de qualquer valor e sentimento, coisa ou pessoa. O pesar da tristeza que nos encurva a postura e a face, e emudece a voz, mas que nos eleva a alma, diante da verdade que quase que uma vida inteira nos esquecemos: a vida se faz plena com amor. Tanto e tão somente com amor.

Um rosto triste reflete a alma e a dor de cada um de nós.

O espelho fiel do que realmente somos.

No vídeo abaixo, Carolina fala-nos mais um pouco sobre esse assunto:

Carolina Vila Nova

Brasileira, 41 anos, formada em Tecnologia em Processamento de Dados, pós-graduada em Gestão Estratégica de Pessoas. Atua numa multinacional na área administrativa como profissão. Escritora, colunista e roteirista por paixão. Poliglota. Autora de doze livros publicados de forma independente pelo Amazon, além de quatro roteiros para filme registrados na Biblioteca Nacional.

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