“Cada vez que eu me omito, cada vez que eu silencio, cada vez que eu suponho que problemas do governo são apenas do governo, eu não estou transferindo poder, eu estou abrindo mão dele.”
Vez ou outra, há uma tendência, quando se vai falar de política, de a pessoa dizer: “Ah, não quero falar sobre isso, isso não é da minha conta”. Cuidado. A política é da sua conta e da minha. Partido é uma coisa que a pessoa decide se tem ou não. Política é da nossa conta o tempo todo. Colocar-se como neutro é um ato político. Porque, como a política é a tentativa de acerto de interesses que nem sempre coincidem, colocar-se neutro é ficar sempre ao lado de quem é mais poderoso.
Se alguém vê um menino de 15 anos disputando uma bala com um menino de 5 anos e diz: “não vou me meter”, bem, já se meteu. Porque ficar omisso é ficar ao lado de quem vai ganhar. É claro que o menino de 15 anos tem mais força que o menino de 5. Por isso, o papel do cidadão não é dizer: “isso não é da minha conta”. Ao contrário, é da sua conta, do ponto de vista do tributo imposto, e é da sua conta como exercício de uma vida consciente. Cada vez que eu me omito, cada vez que eu me silencio, cada vez que eu suponho que problemas do governo são apenas do governo, eu não estou transferindo poder, eu estou abrindo mão dele.
E isso é algo que se entende que numa democracia não deva acontecer. É preciso cada vez mais que tenhamos clareza de que, nessa relação Estado-sociedade, ambos tenham obrigações e ambos tenham direitos. Não é casual que tenhamos um lema que diz: “educação, saúde, transporte, habitação: direito do cidadão, dever do Estado.
Mas cuidar para que o Estado cuide é um dever nosso. A tarefa do Estado é cuidar. A nossa tarefa é cuidar para que o Estado cuide. O poder público não é só um território para as nossa reclamações e demandas. O poder público é onde nós exercemos a nossa ação-cidadã. Há coisas que eu aprendo, há coisas que eu ensino.
O que eu não posso ficar é numa postura de acomodação, de entorpecimento, achando e dizendo o tempo todo: “alguém tem que fazer alguma coisa”. Esta frase tem uma resposta reta: sou eu, como cidadão e cidadã, que tenho de fazer.
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