Literatura

“Amado amigo” por Raquel Alves

Os dias nos passam como o vento por entre as folhas. Eles nos passam pois sinto que o tempo corre e circula por entre nossos corpos. E sempre que pensamos que o tempo dos nossos desejos é mais ágil que o tempo da vida, enganamo-nos. Quando vemos na parte inferior da ampulheta os anos que já deixaram de ser, concluímos que o tempo da vida passa muito mais rápido que o nosso. E aí toda nossa suposta correria se vai em vão.

A sensação de vida bem vivida não se dá na quantidade de coisas que fazemos, mas no prazer que sentimos enquanto os dias circulam por entre a gente. Não acredito meu caro amigo que estamos nessa vida para sofrer, mas sim para sentir prazer – nem que seja nas nossas lutas. Claro que não me refiro ao prazer leviano que será esquecido no amanhecer seguinte, mas àquilo que alegra a nossa alma durante a sua busca.

Enquanto nossos dias passam nosso corpo envelhece. Perde o vigor e as vontades da juventude. Porém nesse mesmo tempo nossa alma se revigora. Quanto mais vivida, sábia e alimentada a nossa alma é, mais prazer ela sente na sua busca pela alegria.

Vivemos dentro de nós o contraponto entre o corpo e a alma. Com o passar do tempo, enquanto um envelhece o outro revigora. Como uma vela símbolo de vida, para que a chama se ilumine é preciso queimar o pavio e a parafina.

A areia da ampulheta meu amado amigo, nos fala do tempo que passa desgastando nossos corpos. Mas sobre nossas almas, só o silêncio que carregamos dentro do peito é capaz de nos falar a respeito.
Não se aflija querido irmão se não conseguir mover montanhas. Pergunte-se inclusive se tais montanhas moram dentro de você e se faz algum sentido usar seu precioso tempo para movê-las.

Lembre-se: você nunca tem tempo. Se assim fosse, já teria tratado de paralisá-lo várias vezes não é mesmo? É o tempo que te tem. Ele que crava marcas sobre o seu corpo. Ele que corre inexoravelmente contra tua vontade. Ele que nunca adia e nem atrasa pois sempre é e está por entre nós.

E até que o tempo se cale e tropece, que possamos caminhar leves, com pureza, amor e bondade. Que pelas veredas que trilhamos o jardins de Deus permaneçam sempre floridos.

Até breve amado amigo. Faça da tua ampulheta um mero detalhe. Tempus Fugit, Carpe Diem… Amém!

Raquel Alves

Arquiteta por formação, hoje dedica-se integralmente a presidir o Instituto Rubem Alves, criado para manter vivo o pensamento de seu pai, difundir a sua obra e capacitar novos mestres.

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