Acredito que uma das maiores lições que aprendi nos meus últimos anos foi a tal da resiliência. A palavra pode estar na moda, mas nem de longe, é algo que se pratique com facilidade. É preciso maturidade e força de espírito para vivenciá-la na prática.
Gosto de pensar num exemplo assim: se uma criança morre de medo de injeção, pode ser que no momento da aplicação, de medo e revolta, ela comece a chorar, gritar e a debater-se. Como o medicamento deve ser tomado, alguém irá segurar a criança até que ela esteja então medicada. Mas é claro que o choro, os gritos e o “ser segurado à força” acabam sendo muito mais traumáticos do que apenas a dor de uma agulhada.
Temos tanto medo de sofrer, que somos capazes de fazer tudo contra uma possível dor, na crença de que somos fortes o bastante para eliminar os sofrimentos de nossas vidas.
Somos tão inocentes e imaturos, que durante a maior parte da vida choramos, gritamos e nos debatemos exatamente como aquela criança. E quem nos segura é a própria vida, que nos imobiliza ainda mais, quando tentamos fugir de uma determinada situação.
Se eu me revolto em relação a minha família, a minha raiva me faz sofrer ainda mais aquilo que já me machuca. E quanto mais eu alimento este sentimento, maior ele fica. O sofrimento cresce à mesma medida em que eu vou me tornando mais dependente deste rancor.
Se no trabalho eu não aceito como as coisas funcionam, mais elas continuarão a funcionar da maneira que me incomoda.
Se a pessoa que eu amo me irrita de uma determinada maneira e eu não aceito esta determinada característica, cada vez mais visível este ponto se torna para mim.
Quanto mais eu não gosto de uma pessoa, mais eu terei que conviver com a mesma.
É incrível o poder da atração que a raiva e a revolta possuem. Quanto mais eu não quero uma coisa, mais esta coisa gruda em mim.
Não é fácil aceitar todos os familiares exatamente como eles são. Nem as situações no trabalho, quando elas parecem injustas ou ruins. Ou ainda a pessoa que eu espero ter o resto da vida ao meu lado, com um defeito irritante. Ou então conviver com alguém que eu detesto. Nada disso é fácil.
E então, como funciona a tal da resiliência nisso tudo?
Aceitando tudo e a todos exatamente como eles são. Este é o primeiro e maior passo. Quando eu paro de brigar internamente, mentalmente, com aquilo que me incomoda, eu dou início a um “acalmar” dos ânimos.
Quando eu paro de julgar os meus familiares e entendo que eles têm o direito de ser como são e me lembro de que eu também tenho defeitos, toda a raiva e revolta dá lugar a uma paz de espírito antes nunca sentida. O aceitar as diferenças inclui aquilo que me incomoda. O que difere daquilo que eu sou ou penso, visto com respeito, me torna humilde e livre, uma vez que compreendo também as minhas imperfeições.
Somos todos iguais, seres errantes, aprendendo uma lição por dia, na dor que a vida nos impõe. E nas poucas alegrias que ela verdadeiramente oferece.
Se no trabalho alguém me incomoda ou algo me perturba, entendo que de alguma maneira irei crescer com aquilo. Seja no dom da paciência e da tolerância, ou no me sobressair com calma e autocontrole. É mais do que talento o ser que se autodomina. É a liderança de si mesmo num mundo onde tantos ainda acreditam que ser forte é questão de autoridade em relação aos outros.
Aceitação é a palavra chave para uma vida menos sofrida. Porque quando um sofrimento chega, o me debater apenas prolonga e intensifica a dor. Quando eu aceito, permito que a dor chegue, observo, analiso e aprendo algo com ela. Desta forma, assim como a injeção da pequena criança pode se tornar um drama ou uma leve picada, nossas vidas podem se tornar mais fáceis, se eu aceito o que a vida me impõe.
Nada vem sem alguma lição. E quanto mais eu aceito o que chega, mais rápido também se vai.
Resiliência não é um ato e nem um momento. Resiliência é prática, e constante. Aprendizado que nos ilumina por dentro. E depois por fora.