Texto de Jackson César Buonocore publicado originalmente em Conti Outra
Há poucos dias o ator Fábio Assunção publicou um vídeo, explicando seu posicionamento sobre a música que leva seu nome. Ele tem lutado contra dependência química desde 2008 e contou que 15% das pessoas no mundo possuem problemas com adicção.
Quando Fábio diz de maneira honesta de que a compulsão não está escrita na certidão de nascimento, nos fornece a oportunidade de utilizar a psicanálise para compreender a compulsão. Ela é um mecanismo de repetição obsessiva, ou seja, um modo inconsciente de autopunição.
Portanto, as compulsões se manifestam em atos cotidianos, que desejam apagar a culpa. Sentimento que pode estar ligado, simbolicamente, à figura do pai, porque ele representa as normas sociais ou a traumas psicológicos, que precisam ser investigados.
Em nosso cotidiano ouvimos os seguintes comentários: “O fulano tem vício por álcool, o sicrano sente obsessão por sexo e beltrano come quando está nervoso.” Essas frases tentam explicar as compulsões, como motivos para aliviar o estresse, a ansiedade ou obter prazer para suportar as frustrações.
Esse comportamento se caracteriza por uma pressão interna, que faz com que os sujeitos sejam tomados por fortes desejos de realizar uma ação. Pois é uma tendência incontrolável de fazer algo, de modo excessivo, mas que no início causa gozo e depois gera culpa.
As atitudes compulsivas não estão só vinculadas a droga, álcool, maconha, cocaína e nicotina. Mas têm outras compulsões, cheias de rituais compulsivos de culpa, como lavar as mãos repetidas vezes para proteger-se de germes, acumular objetos sem utilidades, arrancar cabelos, roer unhas, beliscar-se e jogar com fissuração.
Tais compulsões são visíveis no dia a dia, entretanto, as compulsões mentais, entre elas: calcular, orar, redizer palavras, relembrar assuntos e trocar ideias ruins por ideias boas estão ocultas no inconsciente, e são feitas – repetidas vezes – para desviar de ameaças ou desconfortos.
A nossa sociedade de consumo estimula as principais compulsões, iludindo que é possível comprar tudo, com pagamentos em longas parcelas. As pesquisas indicam de que a maioria dos compradores compulsivos são mulheres e apontam que as compulsões dos homens estão mais ligadas à adicção de álcool, drogas, sexo, pornografia e uso excessivo da internet.
Além disso, a patologia social associada às formas de ausência de regras e o enfraquecimento dos valores permitem o acesso a drogas lícitas, a festas onde estão implícitas a liberação da cocaína, álcool e sexo. E tudo isso é glamourizado, abertamente, nos programas de reality shows.
Enfim, seja qual for a compulsão é preciso buscar ajuda terapêutica, já que é uma patologia se não for tratada ou curada produz sofrimentos e graves prejuízos na vida de qualquer pessoa. É como afirmou Fábio Assunção: “ (…) Acho importante lembrar a todos que isso não está escrito na certidão de nascimento”.
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