Todo pai ou mãe, ao ver-se na condição de esperar pela chegada de um filho, passa a observar com outros olhos o mundo que o rodeia. Lembro-me que durante a gravidez repetia constantemente, enquanto ouvia os noticiários e acariciava a minha barriga, os versos de Sophia Andresen: “Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo”…
Essa dolorosa constatação da fragilidade de tudo o que nos cerca muitas vezes faz com que passemos a confundir esse amor infinito com apego demasiado. Na ilusão de que possamos protegê-los da dor e das angústias dos nossos tempos, passamos a cercar os nossos filhos de cuidados excessivos, presentes desnecessários – não raro meros caprichos – e nem paramos para refletir se os nossos gestos e as nossas palavras estão a forjar homens e mulheres resilientes e nobres.
Na ânsia do “ser para eles”, esquecemo-nos de “ser com eles”. Incitar-lhes, na convivência, a força, a determinação, a autonomia, a reflexão ética.
Içami Tiba, em seu maravilhoso livro “Quem Ama, Educa“, nos dá uma bela orientação sobre a arte da paternidade:
“A arte de ser mãe e pai é educar os filhos para que se tornem afetivamente autônomos, financeiramente independentes e cidadãos éticos do mundo. Quanto mais competentes educadores os pais forem, menos necessários se tornarão eles para os filhos, e o vínculo afetivo será mantido eternamente em nome da saudável integração relacional.”
Em face dessas palavras, mesmo diante da nossa impotência em dar aos nossos filhos o mundo que gostaríamos de lhes oferecer, pasamos a compreender que podemos entregar ao mundo humanos que se sintam preparados para enfrentar as fragilidades dos “tempos líquidos” em vivemos.
E que não nos sintamos inúteis, quando desnecessários. Afinal, é para o mundo, e não para nós mesmos, que criamos e educamos os nossos filhos.
A Revista Pazes recomenda a leitura do livro Quem Ama, Educa, de Içami Tiba.
Nara Rúbia Ribeiro
Especialmente para a Revista Pazes