A Flor e o Pássaro

A flor se abre, bela e majestosa. Exala sua beleza para quem quiser olhar. É essa beleza que atrai os pássaros, sua alegria e seu canto. Tudo vira uma ciranda.

Os pássaros trabalham, mesmo sem saber, polinizando e multiplicando as flores. E o fazem incessantemente com alegria e disposição.

As flores agradecem, pois é devido a esse trabalho inconsciente dos pássaros que elas continuam se abrindo e sendo belas, tempos após tempos.

As flores são a espiritualidade, que leva beleza à Terra para que os homens apreciem. Os pássaros são os homens que vêem a beleza do Divino. Quem vê a beleza do Divino é bonito e alegre por si só, canta belas canções e desenha no invisível os gestos suaves de suas asas.

A espiritualidade está em todos os lugares como um imenso jardim cheio de flores, de todas as cores e tamanhos para que os mais variados pássaros, abelhas e insetos polinizadores sejam atraídos.

E assim o é. Os homens se atraem a ver a espiritualidade de diversas formas – seja pela cultura ou pelo estilo pessoal de cada um. Buscam as mais variadas formas de ver e pensar Deus, através desse mundo e das religiões.

As religiões em algumas vezes são o adubo que fortalece a beleza da flor Divina, para que possamos apreciá-la melhor. No entanto outras religiões dedicam-se a envenenar a terra do jardim de flores sagradas, afastando cada vez mais os homens da verdadeira religação com Deus.

Quem envenena a terra, mesmo que sem perceber, colhe deserto.

Flores há de todos os tipos. Desde as mais singelas até as mais apuradas e perfumadas. Todas são igualmente divinas, isso depende apenas do olhar de quem a aprecia. Uma flor não precisa ser rebuscada para ser divina. Ela é a representação de Deus pelo simples fato de ter nascido da terra abençoada e ter feito – sozinha – todo mistério do seu desabrochar.

Da mesma forma, as pessoas não precisam das suntuosas catedrais para sentir a energia divina. Pois até mesmo as catedrais mais magníficas podem ser construídas em cima de terra contaminada. O que importa, na realidade, é saber ver a beleza do mistério do desabrochar da flor, que faz a pessoa sentir a energia divina. E então, ela percebe que Deus está em todos os lugares onde há o assombro da vida. Deus está em todos os lugares onde possa haver um jardim, mesmo que o mais simples. E jardins nós podemos construir dentro da alma… Basta querer. E uma pessoa que tem jardins dentro de si é muito mais bonita que àquelas cheias de concreto. E aí começam – de novo – a ouvir o som dos pássaros, que trazem a beleza da ciranda divina.






Arquiteta por formação, hoje dedica-se integralmente a presidir o Instituto Rubem Alves, criado para manter vivo o pensamento de seu pai, difundir a sua obra e capacitar novos mestres.