Por Iza Junqueira Rezende
A depressão dá lucro: é o que diz a indústria patologizante que medicaliza o afeto, a tristeza, o sono, os amores, o sentimento de vazio e vende uma ideia de bem-estar, mas que, em algum momento, o sujeito terá que lidar com os sentimentos de uma outra forma.
E medicam tanto que não se tem ânimo para sair de casa, cuidar de si, investir numa relação, fazer rupturas e lidar com perdas. E não se trata aqui de negar que existem casos onde a medicalizacão é necessária.
A sensação de melhora rápida adia aquilo que precisa ser dito e reeditado. Os consultórios, que em um momento de Pandemia foram deslocados, estão vivos (on-line) e repletos de pessoas procurando um lugar de escuta e também de fala para suas dores. Eles estão se dando conta de que não dá para ser forte o tempo todo, solucionar tudo, resolver tudo, não chorar, não sofrer… Perceber que a fragilidade faz parte de nós e, portanto, pedir ajuda não é sinônimo de fracasso.
A tentativa de transformar o sofrimento em patologia é o grande marketing da indústria dos psicofármacos, que vende suas tarjas pretas, que limita o sujeito nas suas possibilidades e saídas para o mal-estar. A ideia do normal e do patológico, precisa ser investigado melhor, assim como uma leitura melhor acima dos diagnósticos e seus efeitos para além das cápsulas.
A psicanálise propõe que o sujeito deprimido volte a fantasiar, faça uma travessia, que facilite o acesso ao imaginário, abrindo espaços para que possa falar das suas dores. Expô-las, ao invés de encobri-las. Todo mundo tem algo a dizer, mesmo que por algum tempo isso não lhe venha à lembrança.