Mia Couto, escritor moçambicano, é um poeta que escreve versos e prosa. O poema abaixo foi extraído do seu primeiro livro de poesias: “Raiz de Orvalho”, e dá mostras da grande sensibilidade poética e social de Mia.
Companheiros
quero
escrever-me de homens
quero
calçar-me de terra
quero ser
a estrada marinha
que prossegue depois do último caminho
e quando ficar sem mim
não terei escrito
senão por vós
irmãos de um sonho
por vós
que não sereis derrotados
deixo
a paciência dos rios
a idade dos livros
mas não lego
mapa nem bússola
porque andei sempre
sobre meus pés
e doeu-me
às vezes
viver
hei-de inventar
um verso que vos faça justiça
por ora
basta-me o arco-íris
em que vos sonho
basta-te saber que morreis demasiado
por viverdes de menos
mas que permaneceis sem preço
companheiros
Mia Couto, no livro “Raiz de Orvalho”