Espiritualidade

“98% das pessoas gasta 98% do tempo em coisas que não têm importância”.

Créditos capa: Christopher Briscoe
Neale Donadl Walsch, autor bestseller de 29 livros traduzidos em 37 línguas, quer acelerar a evolução espiritual da espécie humana, concedeu entrevista ao site Visão. O renomado escritor esteve em Portugal para uma palestra intitulada “Despertar a Espécie”.

Aos 73 anos, desafia os leitores a “relacionarem–se com o divino numa perspetiva moderna” com um postulado simples: tudo está ligado e todos somos um.

Editamos aqui alguns trechos para que os nossos leitores compreendam a dimensão da fala e da escrita de Neale.

Começo por uma citação sua: “98% das pessoas gasta 98% do tempo em coisas que não têm importância”. O que quer dizer ao certo?

Exatamente isso. Muitos desconhecem a sua verdadeira identidade espiritual, ficam-se pelo “ter o emprego, o carro, a casa, o cônjuge, os filhos”. Nem eu fazia ideia, até começar a escrever, das quatro coisas que interessam: quem sou, onde estou, porquê e o que faço acerca disso.

Desde quando começou a pensar no sentido da vida?
Tinha sete anos. Questionei o padre da paróquia. O que queria Deus? Porque estava eu ali? Respondeu-me: “Filho, nem eu estou certo de saber quem sou nem de nada em concreto, a não ser da minha fé.” Eu ia para casa e interrogava-me: “Porque não podemos dar-nos todos bem na minha família?” Ou “Porque é que as coisas não são mais simples?”

Quem era o Neale adulto, antes de ser o autor das Conversas com Deus?
Eu achava que era um homem realizado. Primeiro na comunicação social, depois como diretor do departamento de relações públicas numa grande escola. Aos 35 anos deixei o cargo por sentir-me vazio, apesar do salário elevado, do carro, da casa, dos filhos, dos casamentos.

Como explica isso?
Eu não sabia o que era o amor: Acreditava que as mulheres deviam fazer-me feliz, que tinham essa função. Também não tinha a noção do que andava cá a fazer. Procurava respostas nos relacionamentos e não em mim, ou em Deus.

Ver-se na pele de sem abrigo pode acontecer a todos nós. A si, foi no meio da vida, antes da primeira conversa com Deus. O que aconteceu?
Vivi na rua durante um ano. Aos 49 tive um acidente de viação e fraturei o pescoço. Sobrevivi sem ficar paraplégico mas perdi a saúde e o emprego. O meu casamento acabou.

Tudo corria mal. Uma noite dei por mim indignado, a lançar um repto a Deus: “Há alguma coisa que esteja a escapar-me? Diz-me o que é para fazer, por favor!”

Fê-lo por desespero ou por acreditar que Deus respondia? Achou que estava a ser um canal da presença divina?
Eu não canalizo Deus! Prefiro chamar-lhe escrita inspirada. Limitei-me a reproduzir perguntas e respostas e a voz que ouvia dentro de mim.

Tinha um género?
Não, era uma voz sem som, como a dos pensamentos que ouvimos na nossa mente.

Porque lhe chamou Deus?
Pela natureza das respostas que eu estava a receber, que nunca tinha ouvido ou imaginado antes. Depois, pelo estado emocional em que fiquei: calmo, com uma grande paz e as lágrimas a deslizar pela face, à medida que as respostas vinham.

Pode dar um exemplo?
Dou-lhe dois. Perguntei porque é que, seguindo as regras [os dez mandamentos] a minha vida não estava a funcionar. Ouvi isto: “Pensas que a vida gira à volta de ti e ela nada tem a ver contigo, mas com as vidas de todos aqueles que tocares e da forma como o fizeres.” Os mandamentos eram uma invenção humana.

Como olhar então para os ensinamentos de Cristo, Moisés, Buda?
Não estamos na posse de toda a história por trás das religiões. Pense numa criança que acredita que há só contas de somar e de subtrair. Depois descobre a multiplicação, a indivisibilidade, a trigonometria, a geometria, a matemática aplicada… Na sua húbris, os humanos têm a arrogância de presumir que sabem tudo. Não sabem.

Como é que a Igreja tem reagido aos seus livros, palestras e workshops?
Na ciência, na tecnologia e na medicina, fazemos perguntas. Porque não o fazemos também na religião? Estamos congelados no tempo e a seguir preceitos incompletos sem explorar o que há mais para saber. Não admira que haja guerras e se mate, ainda, em nome de Deus!

O que podemos fazer, de acordo com a sua visão?
Explorar crenças fundamentais sobre a vida, sobre nós e o que achamos ser Deus. Sabe que ao longo da próxima hora 655 crianças morrerão à fome, 1,8 mil milhões de pessoas estão sem água potável, 1,7 mil milhões não tem eletricidade e 2,6 mil milhões vivem sem saneamento básico? Vivemos como primitivos! No meu livro proponho que nos comportemos como uma espécie desperta e altamente evoluída, a fim de mudar as crenças sobre quem somos, e o nosso papel aqui.

Para ler a matéria completa, Visite a Revista Visão.

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