Por Rogério Fernandes Lemes
Sentir-se sozinho é o maior ato do egoísmo humano. A solidão é um conceito inventado para representar, egoisticamente, a ausência do outro; o semelhante.
Essa ideia de solidão é ampla e erroneamente reproduzida no que poderíamos chamar de “doutrinação do comportamento”. O ser humano contemporâneo tende a deprimir-se quando seu aparelho de celular fica quieto demais; quando a casa fica vazia nas datas festivas; quando não recebe manifestações de alegria quando fica mais velho ou quando desenvolve alguma atividade em locais afastados dos aglomerados urbanos.
Inúmeras são as reportagens sobre a solidão de pessoas nas madrugadas nas grandes metrópoles; relatam centenas de casos de depressão e de escolhas extremas contra a vida. As vítimas? Sentem-se sozinhas a ponto de não suportarem a ausência da presença.
O medo da solidão talvez seja uma das tragédias humanas. A raça humana é, seguramente, a mais destrutiva do planeta. É a responsável pelas grandes extinções de animais pré-históricos e pelo desiquilíbrio da biologia. Onde o Homo sapiens põe o pé fica seu rastro de destruição.
Após as grandes extinções encontra-se, consigo mesmo, o humano tomado pelo tédio ante o caos e deprimindo-se por sentir-se sozinho. O medo da solidão é pura ignorância. Sente-se sozinho porque sua compreensão de presença é seu olhar do próprio umbigo. Sente-se sozinho porque ignora os seres da criação que habitam o seu redor. Pássaros, répteis, insetos, fungos, bactérias e microrganismos que habitam o corpo do solitário.
Ninguém está sozinho o tempo todo. Ainda que nenhum outro ser humano esteja em sua companhia existe o ser, o espírito ou o fôlego que o anima e sua concepção, formulada em sua mente, de quem entende ser quem é.
As datas de fim de ano devastam muitas vidas de pessoas egoístas que afirmam não suportar mais a solidão. A mudança mais significativa de um ser humano resume-se em duas palavras: inclusão e gratidão. A inclusão dos seres vivos à sua volta como presença e companhia e ser grato pelo dom da vida. A ingratidão produz ausência e a responsabilidade é única e, exclusivamente, dos egoístas.
Os poetas são gratos por cada segundo de vida lhes concedido; por cada leitor apaixonado que espera por seu novo poema; por cada gota de chuva que cai sobre a seca terra trazendo refrigério e vida, mas, principalmente, são gratos pelos momentos de aparente solidão, pois fazem desses momentos grandes oficinas criativas.
Capa: arte de Christian Schloe
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