Por Rogério Fernandes Lemes
A pessoa de Fernando, um português criador de personagens, no minuto limítrofe de sua finitude escolheu despessoar sem negar sua humanidade. O humano, contingente e limitado, peculiaridades estas que o mantém desacabado, quando sincero consigo mesmo reflete, na pessoa de Fernando, sua mais subjetiva condição: saber que nada sabe.
Ainda que no mundo marcas imprima; ainda que mentes ávidas prestam-lhe glórias e cantem suas pessoas criadas, não podem agregar-lhe certeza alguma. Sozinho seguiu a pessoa de Fernando a vida inteira, ou o pedaço dela que se cumpre aqui na terceira dimensão. No limite das certezas observáveis, já quase convalido totalmente pela moléstia, sobram-lhe dosada força, na medida para o exercício tão conhecido e praticado: o fazer borrões em páginas em branco.
Escreve a cansada mão da pessoa de Fernando: “eu respondo ao título deste texto… Eu sei que disso tenho a única certeza que tanto busquei”. Estas são palavras não ditas e subjacentes naquele leito mortal. De fato, o que escrevera a pessoa de Fernando fora outra coisa; parecida quando explicada, mas diferente aos desatentos.
“I know not what tomorrow will bring”. O desassossego existencial curvou-se ante ao desconhecido, até mesmo pelos poetas. Sua minguada força imortalizou-se na célebre frase da pessoa de Fernando: “não sei o que o amanhã trará”.
Ao descansar, o gigante português, elegantemente permaneceu humano e sincero.
O amanhã é o hoje bem ou mal vivido. O amanhã trará, seguramente, as reações das escolhas do hoje. Se boas reações ou não, quem o saberá? Nem mesmo Fernando Pessoa cedeu à tentação das previsões. Juntou-se ao rol dos pensadores que, ainda hoje, fazem-nos lembrar desse constante caminhar, seguros de que o amanhã não nos pertence, pelo menos até o momento em que chega para nós tornando-se o nosso hoje.
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