À primeira vista pode parecer apenas um livro de militância homoerótica. Não é… Não possui nenhuma frase intencional para você aceitar o que não está acostumado a ver, mas também não se pode classificá-lo adotando a expressão machista ”sem vergonhice” ou pela hipocrisia de fingir que não vê, que não existe amor entre seres humanos , ainda que não seja no padrão de casal a que estamos acostumados pela cultura. Como se fosse possível influenciar pessoas que não ficam assim, mas nasceram assim?!!! Não é algo que se produz por intenções atitudes, comportamentos – ou se é, ou se resguarda dos bullying, violências várias , fingindo não ser.
Seres humanos que são marginalizados, oprimidos, muitos até por quem os dizem amar( Aqui a lembrança do sofrimento de Antinous, o escravo bitínio do Imperador Adriano da obra de Marguérite Yourcenar …)
Chamam a atenção, durante a leitura, alguns pontos expostos a seguir :
* narrado em primeira pessoa, dirige-se o tempo todo a um doutor G que não é só o destinatário inserido, mas que, de forma abominável, faz parte da trama;
* menção a leituras e, excepcionalmente, filmes lidos e assistidos que lembram toda a trajetória de Bê, o protagonista, sua visão de mundo, o espaço em que foi colocado na vida, especialmente o”/ET”,” A Cor Púrpura” que lembram seres diferentes, sofridos, à margem da sociedade e , no caso do último, vítimas da opressão, do silêncio imposto, o ocultamento aos pais os roxos, as feridas abertas,” fruto do futebol , da educação física…”
*preocupação com doenças sem tê-las, a obsessão hipocondríaca de experimentar todos os fármacos e as manipulações para a” dor do lado”, a preocupação com o “mal”. O recurso da Macabea de Clarice para eliminar todo e qualquer vestígio das dores do mundo?
*a referência à espécie de escola , tipo de educadores, ou que obrigam os seres humanos a ficarem em seus postos de submissão, ou outra e outros(as) que lhes dão asas para o voo como a professora Cidinha e os livros da coleção Vagalume, leitura dos iniciantes, mas que ligadas à realidade da juventude, passo para outras bem mais profundas e libertadoras.
*o questionamento que faz quanto à vida, às pessoas travestidas de pessoas importantes de uma certa posição e “deveres” afinal, ao que tem compreensão será cobrado muito mais; aos mestres que “ ensinam” alheios ao que se passa à sua volta, em uma omissão/ignorância fingida do que não quer ver; a imagem persecutória de Bolão , misto de valentia e covardia como muitos que existem por aí; o acolhimento e o amor de Galeto que faz enxergar que a vida vale a pena, a despertar para outras leituras, outros sentimentos, a reestruturar os antigos; a percepção das mães, de irmãos, a preocupação com os mais fracos, com os fatigados ,com os que não têm norte na vida; uma tristeza com as contingências da vida a silenciar as pessoas e a tomar determinados rumos;
*a verossimilhança com espaços que conhecemos das escolas, de seres humanos , que poderiam estar em qualquer lugar do mudo; como a turba que assiste eufórica ao escândalo, à pequena vingança enfim conseguida; provoca nos mestres, nessa mestra, a preocupação com sua orientação, com seu jeito de proceder em sociedade, o cuidado com não afrontar e desafiar o mundo, o perigo de ser e se mostrar, mas SER. Lança luz sobre a vida, provoca emoções, compreensão, sentimentos de acolhimento, tudo isso com a linguagem que escorre e nos preenche de Luiz Fernando Braga, em prosa que em alguns momentos poetiza momentos, suas leituras, denúncias. Obra inquietante a princípio, mostra-nos o ser humano “de fora” , sempre se policiando. Sua libertação se dá pela leitura, pelos sonhos, ficção, conquistas, pelo acolhimento e mesmo pelo sofrimento… Uma história de seres humanos apenas…
Diz o autor, em algum lugar, que é um texto piegas, também não é… Outros adjetivos que deu: à sua criação/ livro: amador, jorrado, gritado. É, com certeza, a antítese de tudo o que o silêncio traz, a antítese do pensamento inicial de Tranströmer e que tanto inquieta:“Quieta, a formiga acorda, espreita para dentro do nada. E para além das gotas da escura folhagem e do murmúrio noturno, profundo no desfiladeiro do verão não se ouve mais nada.”
Uma missão a dele, Luiz Fernando, “sobretudo, educador”.
Professora no Curso de Letras da Faculdade Santa Marcelina
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