Estes cinco curtas estão disponíveis na internet, uma experiência que soma 96 minutos de puro brilhantismo e simplicidade devastadora. Eu recomendo que repitam o ritual que costumo fazer, vendo eles sem pausas e na ordem proposta pelo texto. É terapêutico, lava a alma e emocionalmente desfragmenta o sistema interno, uma massagem poderosa no cérebro. Tenha certeza, você sairá modificado (a) desta sessão.
O Balão Vermelho (Le Ballon Rouge – 1956)
Um menino e seu balão vermelho caminhando pelo bairro, vivenciando situações engraçadas, comuns e agressivas. O filme do francês Albert Lamorisse é um sonho que remete à infância, a bonita capacidade de a criança amar sem preconceito, a amizade que nasce entre dois elementos solitários. Ao resgatar o balão em um ato de coragem, o menino sente que se torna responsável por aquele frágil companheiro. Uma amizade que minimizava o medo diário ao confrontar o desconhecido, do mundo novo de regras que não entende, até a tangível perseguição dos cruéis garotos da vizinhança. O desfecho emocionante que aborda a compreensão da finitude é engrandecido pela elegante utilização da mágica, do transcendental, como forma de lidar com o triste evento. O amor é a única resposta.
Powers of Ten (1977)
Simples, breve e poderoso em sua catarse. A câmera registra um romântico piquenique em uma praça, que ganha contornos filosóficos ao ter seu campo visual ampliado em dez vezes a cada dez segundos, evidenciando como superestimamos nossa importância no tabuleiro do jogo da vida. O toque de genialidade, após nos conduzir para os confins da galáxia, está em fazer o caminho de volta, promovendo o reencontro com o casal e ampliando então em nível celular, molecular, a exploração pelo universo que reside no próprio indivíduo. Como afirma a narração: “Eventualmente tudo se conecta”.
Ilha das Flores (1989)
Jorge Furtado se tornaria mais conhecido pelo grande público ao dirigir “O Homem Que Copiava”, mas ele já havia impressionado a crítica mundial com esta obra-prima que consegue, com ousadia, bom humor e generosa utilização de metáforas, mostrar como a economia gera relações desiguais, acompanhando a trajetória de um simples tomate, desde a plantação até ser jogado fora no lixão da Ilha das Flores. Temos o telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor, mas somos realmente seres inteligentes? Um documentário fundamental.
Meshes of The Afternoon (1943)
Surreal pesadelo que dificilmente será esquecido, sem diálogos (e, em sua primeira versão, sem música), idealizado pelo casal Maya Deren e Alexander Hammid, uma obra que pode ser compreendida de diversas formas, até como libelo feminista (a utilização da flor representando pureza, a faca de cozinha como símbolo da machista visão da mulher como dona de casa), mas creio que a melhor maneira de absorver este experimento visual é não tentar analisar de forma lógica as cenas, apenas admirar a expressão artística dos criadores.
La Jetée (1962)
(No link acima, um trecho do curta)
É possível que a maioria conheça “Os Doze Macacos”, de Terry Gilliam, roteiro livremente inspirado neste fabuloso curta de Chris Marker. Um sobrevivente da Terceira Guerra Mundial que vive como prisioneiro nos subterrâneos de uma Paris destruída, guardando lembranças de uma infância feliz na superfície, até que cientistas o escolhem para realizar uma experiência de viagem no tempo. O importante não é tanto a trama, mas a maneira como ela é trabalhada esteticamente, com a utilização de imagens estáticas exibidas em sequência. A memória não é, de fato, registrada em nossa mente como fotos? Quando você pensa em sua infância, imagens brotam soltas, a sua mente se esforça para preencher as lacunas. O desfecho vai te arrepiar. “Nada distingue as recordações dos outros momentos: não até mais tarde, quando são reconhecidos por suas cicatrizes.”
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