Todo mundo já passou por isso. O filho faz uma coisa que não devia, você está num dia ruim, e quando viu já foi: gritou. Perdeu a paciência, falou o que não queria do jeito que não queria. Poucos segundos depois o arrependimento entra em cena. Que droga de mãe que eu sou, meu filho é uma criança inocente, tadinho, por que? O que eu estou fazendo de errado?
A verdade é que perder a paciência é humano, e infelizmente esse descontrole emocional acontece até com as pessoas que a gente ama mais no mundo. Só que por mais que possamos entender nossas fraquezas, e até nos perdoar por essas pisadas na bola, gritar não leva ninguém a lugar nenhum. Não resolve nada, só piora. A mãe se sente falhando, o filho fica assustado, e como método pedagógico, vamos combinar, que gritar é bem duvidoso.
Até aí tudo certo, estamos todas de acordo. Mas e agora? O que a gente pode fazer naquele momento que o sangue está subindo a cabeça? O que pensar quando estamos enfrentando os “terrible twos” e sendo desafiadas toda hora? O que pensar bem naquela hora em que o filho se recusa a calçar o sapato e você sabe que vai chegar atrasada no trabalho?
Bem, caras leitoras, fui procurar as respostas nos mestres. Com vocês, 3 princípios do budismo e da prática de meditação para quem não está mais a fim de perder a compostura.
1) Tire o foco do comportamento da criança e coloque o foco na sua reação. Claro que o comportamento indevido deve ser trabalhado, mas é preciso ter em mente que mais importante do que acontece com você, é a sua reação ao que acontece com você. Existe uma grande diferença entre responder e reagir a algo. E nosso cérebro pode ser treinado. A prática da meditação leva as pessoas a observarem seus pensamentos com mais clareza e desapego. Pensamentos são“apenas pensamentos” e nós temos a escolha entre nos engajar com eles ou deixá-los irem embora. Não está afim de meditar? Então, tente contar até 10 antes de reagir impulsivamente. Segundos de espaço entre o que aconteceu e a maneira como você vai responder ao que aconteceu fazem toda a diferença.
2) Ainda nesta linha de trabalhar na reação, a Monja Jetsunma Tenzin Palmo explica neste vídeo muito bacana, “que é muito fácil ser amoroso, amigável e gentil com pessoas que estão sendo amorosas, amigáveis e gentis com a gente.” Ou seja, é fácil ser mãe daquela criança que se comporta como um verdadeiro anjo. Mas será que se seu filho é um santinho, você pode realmente se considerar uma mãe paciente? A verdadeira paciência, aquela necessária na hora que a vontade verdadeira é explodir deve, também, ser treinada. É o grande antídoto para a raiva e um enorme virtude espiritual, independente da sua crença religiosa. E não dá para treinar paciência em situações fáceis. Para treinar a paciência precisamos de situações difíceis. Pare de encarar as dificuldades apenas um simples martírio e veja a excelente oportunidade de evoluir como pessoa. E que motivação maior e melhor para evoluir do que o amor que a gente sente pelos nossos filhos?
3) E por último, uma frase atribuída ao Dalai Lama que para mim faz o maior sentido: “Dormir é a melhor meditação”. Mente cansada é mente bagunçada. Com tanta coisa para fazer, nós esquecemos que dormir é uma função cerebral. O cérebro precisa do sono para funcionar direito, para se regular e controlar emoções. Dormir, principalmente nas horas em que ser mãe está exigindo um pouco mais das suas emoções do que o normal, é fundamental. Imagina a cena: seu filho subiu na cadeira da cozinha para alcançar um pote de balas de vidro, que caiu no chão e quebrou praticamente na cabeça dele (essa história não é fictícia 🙂 Se isso acontecesse em um dia que você estivesse bem dormida, na sua melhor forma, você com certeza teria uma reação diferente do que se exatamente a mesma coisa acontecesse num dia que você dormiu 3 horas porque o caçula passou a noite acordando com dor de ouvido. Qual a diferença entre as duas reações? Nada de mais – apenas o estado da sua mente. Sim, eu sei… ser mãe e dormir pouco são praticamente sinônimos, mas encare dormir como uma prioridade na sua vida para que as coisas deem certo. Você verá que descansada é bem mais fácil contar até 10 ao ver o pote de balas espatifado no chão.
Camila Furtado é mãe da Maria e do Gael, seus mestres espirituais para assuntos de generosidade, paciência, amor infinito, desapego e tudo que vocês pode imaginar. Ela é uma meditadora iniciante e recomenda os seguintes links para quem está no mesmo estágio que ela estava há dois anos atrás: meio cética, querendo evoluir e sem ideia por onde começar.
– Headspace.com (site e app muito bacanas para começar a meditar) e 10% mais feliz (meditação explicada e mastigada para céticos, livro delícia de ler)
Este texto foi originariamente postado no blog Tudo sobre minha mãe, a que recomendamos.