Discreta, fina, elegante, majestosa. Essa é Fernanda Montenegro, não importa em que fase da sua vida.
Hoje Fernanda diria com propriedade a famosa frase de Cora Coralina “venho do século passado e trago comigo todas as idades”. E traz mesmo. Tem todas as idades. Viveu muitas vidas e nos faz refletir, hoje, sobre as faces positivas que o envelhecimento pode nos emprestar.
Trouxemos abaixo trechos de um depoimento emocionado e lúcido de Walcyr Carrasco, (escritor, dramaturgo e autor de telenovelas brasileiro.)publicado na Revista Época.
“Já admirava Fernanda Montenegro havia muitos anos. Era jovem quando assisti a sua magnífica interpretação em As lágrimas amargas de Petra Von Kant. Saí impactado. Fernanda pertence a uma geração de atores formada nos palcos. Nunca fez questão de ser a mais bonita, a exuberante. Ao lado do marido, Fernando Torres, já falecido, investiu sempre na carreira teatral. Surgiram a televisão, o cinema. Foi finalista do Oscar por Central do Brasil. Feio fez a Academia, ao não lhe dar o prêmio. Há pouco tempo, ganhou o Emmy por uma série da TV Globo.”
(…)
“Dia desses, fui visitar as gravações. No camarim, Fernanda, orgulhosa, se contemplou no espelho.
– Estou sem maquiagem.
Aviso. Ouvir isso de uma atriz, ainda mais de uma estrela como é Fernanda, é raríssimo. Não só de atrizes. Eu mesmo gostaria, quando dou entrevistas, de passar pelas mãos mágicas de um maquiador. Uma boa maquiagem elimina sinais de idade. Diante da iluminação, torna os rostos muito mais atraentes. Para uma atriz, abrir mão da maquiagem é o mesmo que expor todos os sinais do tempo, as marcas da vida. Fernanda, como a vidente Mercedes, não usa nenhum artifício. Também a observei nas entrevistas. Lúcida, com um raciocínio exato e conciso, ao fazer declarações sobre os recentes ataques a exposições de arte. Surpresa! Justamente no dia da minha visita, era seu aniversário. Haveria um bolo em sua homenagem. Coisa simples, apenas com o pessoal que estava no cenário, não mais de seis ou sete pessoas.
Cantamos “Parabéns”. Cortamos o bolo. Oferecemos um buquê de flores. Alguém comentou sobre o fato de estar trabalhando justo no dia do aniversário. Ela disse:
– Só tenho a agradecer por estar com 88 anos, aqui, gravando. Ser atriz é o que quis fazer toda a vida. Possuir condições físicas para trabalhar é uma dádiva. A oportunidade de ter um papel, de viver meu personagem, é a melhor comemoração que posso ter. Existe felicidade maior?
(…)
Sempre fui pessimista em relação à velhice. Meu olhar sempre se voltou para os problemas, as doenças. No entanto, diante de Fernanda Montenegro, descobri que a velhice pode ser uma fase intensa, cheia de vida, de emoções. “
Para ler o depoimento completo, acesse o site da Revista Época.
Nossas homenagens à incoparável Fernanda, por sua genialidade, e ao diretor Walcyr Carrasco, por sua imensa sensibilidade.
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