Literatura

39 reflexões de Clarice Lispector para alavancar sua autoestima

Dizem que a vida é dura para quem é mole. Não acredito que esse dito popular esteja de todo certo, já que as dificuldades fazem mesmo parte da vida independente da capacidade de cada um de enfrentar os obstáculos inerentes a ela. Na vida, há mais espinhos do que flores, mais estradas de barro do que estradas asfaltadas.

A diferença é que, alguns desistem dela sem antes encará-la de frente. Enquanto outros partem para o ataque.

A vida é um perigoso campo de batalha onde para se manter vivo não há outro remédio senão lutar. Recusa-se a fazer isso, é se condenar a viver morto em vida.

Por isso resolvemos reunir frases de um dos maiores expoentes da literatura brasileira, Clarice Lispector, a qual nos deixou tão cedo vítima de um câncer e ainda com tanto a nos falar.

ÁGUA VIVA
“Tenho um pouco de medo: medo ainda de me entregar pois o próximo instante é o desconhecido. O próximo instante é feito por mim? ou se faz sozinho?”
– Clarice Lispector, em “Água viva”.

“Eu te digo: estou tentando captar a quarta dimensão do instante-já que de tão fugidio não é mais porque agora tornou-se um novo instante-já que também não é mais. Cada coisa tem um instante em que ela é. Quero apossar-me do é da coisa.”
– Clarice Lispector, em “Água viva”.

“Não vê que isto aqui é como filho nascendo? Dói. Dor é vida exacerbada. O processo dói. Vir-a-ser é uma lenta e lenta dor boa.”
– Clarice Lispector, em “Água viva”.

“É com uma alegria tão profunda. É uma tal aleluia. Aleluia, grito eu, aleluia que se funde com o mais escuro uivo humano da dor de separação mas é grito de felicidade diabólica. Porque ninguém me prende mais”
– Clarice Lispector, em “Água viva”.

“Mas quero ter a liberdade de dizer coisas sem nexo como profunda forma de te atingir.”
– Clarice Lispector, em “Água viva”.

“Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada.”
– Clarice Lispector, em “Água viva”.

“Meu tema é o instante? meu tema de vida. Procuro estar a par dele, divido-me milhares de vezes em tantas vezes quanto os instantes que decorrem, fragmentária que sou e precária os momentos – só me comprometo com vida que nasça com o tempo e com ele cresça: só no tempo há espaço para mim.”
– Clarice Lispector, em “Água viva”.

“Escrevo-te em desordem, bem sei. Mas é como vivo. Eu só trabalho com achados e perdidos.”
– Clarice Lispector, em “Água viva”.

“Então escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra. Quando essa não-palavra – a entrelinha – morde a isca, alguma coisa se escreveu. Uma vez que se pescou a entrelinha, poder-se-ia com alívio jogar a palavra fora. Mas aí cessa a analogia: a não-palavra, ao morder a isca, incorporou-a. O que salva então é escrever distraidamente.”
– Clarice Lispector, em “Água viva”.

“Não, nunca fui moderna. E acontece o seguinte: quando estranho uma pintura é aí que é pintura. E quando estranho a palavra aí é que ela alcança o sentido. E quando estranho a vida aí é que começa a vida.”
– Clarice Lispector, em “Água viva”.

“Mas há a espera. A espera é sentir-me voraz em relação ao futuro. Um dia disseste que me amavas. Finjo acreditar e vivo, de ontem pra hoje, em amor alegre. Mas lembrar-se com saudade é como se despedir de novo.”
– Clarice Lispector, em “Água viva”.

“Mas se eu esperar compreender para aceitar as coisas – nunca o ato de entrega se fará. Tenho que dar o mergulho de uma só vez, mergulho que abrange a compreensão e sobretudo a incompreensão. E quem sou eu para ousar pensar? Devo é entregar-me. Como se faz? Sei porém que só andando é que se aprende a andar e – milagre – se anda.
Eu, que fabrico o futuro como uma aranha diligente. E o melhor de mim é quando nada sei e fabrico não sei o quê.”
– Clarice Lispector, em “Água viva”.

“Será que isto que estou te escrevendo é atrás do pensamento? Raciocínio é que não é. Quem for capaz de raciocinar – o que é terrivelmente difícil – que me acompanhe.”
– Clarice Lispector, em “Água viva”.

FELICIDADE CLANDESTINA

“O mundo parece chato mas eu sei que não é. Sabe por que parece chato? Porque, sempre que a gente olha, o céu está em cima, nunca está embaixo, nunca está de lado. Ei sei que o mundo é redondo porque disseram, mas só ia parecer redondo se a gente olhasse e às vezes o céu estivesse lá embaixo.”
– Clarice Lispector, em “Felicidade clandestina”.

“Além do mais, a solidão de um ao lado do outro, ouvindo música ou lendo, era muito maior do que quando estávamos sozinhos. E, mais que maior, incômoda. Não havia paz. Indo depois cada um para seu quarto, com alívio nem nos olhávamos.”
– Clarice Lispector, em “Felicidade clandestina”.

“Aqui em casa pousou uma esperança. Não a clássica que tantas vezes verifica-se ser ilusória, embora mesmo assim nos sustente sempre. Mas a outra, bem concreta e verde: o inseto.”
– Clarice Lispector, em “Felicidade clandestina”.

“No meio do meu silêncio e do silêncio da rosa, havia o meu desejo de possuí-la como uma coisa só minha. Eu queria poder pegar nela. Queria cheirá-la até sentir a vista escura de tanta tonteira de perfume. (…) Até chegar à rosa foi um século de coração batendo. (…) O que é que eu fazia com a rosa? Fazia isso: ela era minha.”
– Clarice Lispector, em “Felicidade clandestina”.

LAÇOS DE FAMÍLIA

“Mas as palavras que uma pessoa pronunciava quando estava embriagada era como se estivesse prenhe – palavras apenas na boca, que pouco tinham a ver com o centro secreto que era como uma gravidez”
– Clarice Lispector, em “Laços de família”.

“Sempre fora fascinada pelas ostras, com aquele vago sentimento de asco que a aproximação da verdade lhe provocava”
– Clarice Lispector, em “Laços de família”.

A HORA DA ESTRELA

“Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade através de muito trabalho”
– Clarice Lispector, em “A hora da estrela”.

“Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.”
– Clarice Lispector, em “A hora da estrela”.

PRA NÃO ESQUECER

“Cada vez mais acho tudo uma questão de paciência, de amor criando paciência, de paciência criando amor.”
– Clarice Lispector, em “Para não esquecer”.

“Estou can-sa-da. De ser in-com-pre-en-sí-vel. Mas não quero que me compreendam senão perco a minha intimidade sagrada. É muito grave o que estou falando, muito grave mesmo.”
– Clarice Lispector, em “Para não esquecer”.

“Não posso escrever enquanto estou ansiosa ou espero soluções porque em tais períodos faço tudo para que as horas passem; e escrever é prolongar o tempo, é dividi-lo em partículas de segundos, dando a cada uma delas uma vida insubstituível.”
– Clarice Lispector, em “Para não esquecer”.”

Teu segredo é tão parecido contigo que nada me revela além do que sei. E sei tão pouco como se o teu enigma fosse eu. Assim como tu és o meu.”

– Clarice Lispector, em “Para não esquecer”.

“Eu fingi por orgulho que não doía, eu pensava que fingir força era o caminho nobre de um homem e o caminho da própria força. Eu pensava que a força é o material de que o mundo é feito, e era com o mesmo material que eu iria a ele.”
Clarice Lispector, em “Para não esquecer”.

“Escrever é tantas vezes lembrar-se do que nunca existiu. Como conseguirei saber do que nem ao menos sei? assim: como se me lembrasse.”
– Clarice Lispector, em “Para não esquecer”.

“Meu receio era de que, por impaciência com a lentidão que tenho em me compreender, eu estivesse apressando antes da hora um sentido”
– Clarice Lispector, em “Para não esquecer”.

“Hoje, de repente, como num verdadeiro achado, minha tolerância para com os outros sobrou um pouco para mim também (por quanto tempo?). Aproveitei a crista da onda, para me pôr em dia com o perdão.”
– Clarice Lispector, em “Para não esquecer”.

“A certeza só aparentemente paradoxal de que o que atrapalha ao escrever é ter de usar palavras. É incomodo. Se eu pudesse escrever por intermédio de desenhar na madeira ou de alisar uma cabeça de menino ou de passear pelo campo, jamais teria entrado pelo caminho da palavra”
– Clarice Lispector, em “Para não esquecer”.

“E era bom. ‘Não entender’ era tão vasto que ultrapassava qualquer entender – entender era sempre limitado. Mas não-entender não tinha fronteiras e levava ao infinito, ao Deus. Não era um não-entender como um simples de espírito. O bom era ter uma inteligência e não entender. Era uma bênção estranha como a de ter loucura sem ser doida. Era um desinteresse manso em relação às coisas ditas do intelecto, uma doçura de estupidez.”
– Clarice Lispector, em “Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres”.

“E o que é que eu faço? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda, que já está começando a me doer como uma angústia, como um grande silêncio de espaços? A quem dou minha felicidade, que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta.”
– Clarice Lispector, em “Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres”.

“Existir é tão completamente fora do comum que se a consciência de existir demorasse mais de alguns segundos, nós enlouqueceríamos. A solução para esse absurdo que se chama ‘eu existo’, a solução é amar um outro ser que, este, nós compreendemos que exista”
– Clarice Lispector, em “Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres”.

A BELA E A FERA

“Permitia-se um pouco de equilíbrio como uma trégua, mas que o tédio logo invadia. Até que, na vontade mórbida de novamente sofrer, adensava esse tédio, transformava-o em angústia”
– Clarice Lispector, em “A Bela e a Fera”.

ONDE ESTIVESTES DE NOITE

“Apenas isso: chove e estou vendo a chuva. Que simplicidade. Nunca pensei que o mundo e eu chegássemos a esse ponto de trigo. A chuva cai não porque está precisando de mim, e eu olho a chuva não porque preciso dela. Mas nós estamos tão juntas como a água da chuva está ligada à chuva. E eu não estou agradecendo nada”
– Clarice Lispector, em “Onde estivestes de noite”.

“Na certa cada um tinha o próprio caminho a percorrer interminavelmente, fazendo isto parte do destino, no qual ela não sabia se acreditava ou não.”
– Clarice Lispector, em “Onde estivestes de noite”.

CARTAS PERTO DO CORAÇÃO

“Não se pode ir a um teatro sem precisar dizer se gostou ou não, e porque sim e porque não. Aprendi a dizer ‘não sei’, o que é um orgulho, uma defesa e um mau hábito porque termina-se mesmo não querendo pensar, além de não querendo dizer.”
– Clarice Lispector, em “Cartas perto do coração“.

Revista Pazes

Uma revista a todos aqueles que acreditam que a verdadeira paz é plural. Àqueles que desejam Pazes!

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